O Poeta Morto
(José Régio)
Barbearam-no e vestiram-no de preto,
Calçaram-lhe sapatos de verniz,
Moscas varejas chupam-lhe o nariz,
E ele mantém-se pálido e correcto.
Cheira a cera no quarto, já repleto
Do que há de mais distinto no país:
... Um general, dois lentes, um juiz...,
Com ar triste, imbecil, grave e discreto.
Logo, os críticos sérios e carecas
Folhearão no pó das bibliotecas
Um livro caluniado enquanto vivo.
Esse a quem chamam hoje ilustre e augusto
Porque... porque ele, agora, é inofensivo
Como qualquer estampa ou qualquer busto!
"José Régio por José Régio"
CD Movieplay EMP 1003 1994
Publicado com autorização expressa dos herdeiros de José Régio, a quem se apresenta o devido agradecimento
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