Um caso clássico é o das Testemunhas de Jeová. Todo mundo sabe que eles não aceitam cirurgia com transfusão de sangue, por uma interpretação do que está na Bíblia. A equipe do Globo Repórter pretendia mostrar isso no programa, como um exemplo de fé que atrapalha o tratamento de saúde... Mas será que é simples assim?
Nos Estados Unidos - e também no Brasil - muitos médicos têm uma visão diferente: aceitam os limites impostos pela religião e vão buscar técnicas alternativas para evitar transfusões. Essa visão nova permitiu à Gabriela reconquistar a energia, que agora ela esbanja nas brincadeiras.
“Era uma criança de lábios e unhas bem roxinhos. Uma aparência sempre bem abatida”, conta Ruth, mãe de Gabriela. A menina nasceu com um problema sério no coração e precisava de, pelo menos, duas cirurgias - uma delas antes de completar um ano. O problema: a mãe é Testemunha de Jeová.
“Não faria transfusão de sangue de jeito nenhum. Primeiro porque eu ajo de encontro com os meus princípios. Em segundo lugar, existem riscos de outras doenças com a transfusão. Eu tinha certeza que eu encontraria uma equipe disposta a operar a Gabriela”, afirma a dona de casa Ruth de Camargo.
E ela encontrou! Na cirurgia de Gabriela foi usada uma máquina que permite reaproveitar o sangue do próprio paciente. “É o aparelho que faz a função do coração e dos pulmões durante a cirurgia cardíaca”, explica o cirurgião cardíaco Walter Gomes.
É um recurso a mais, que pode ser posto a serviço das Testemunhas de Jeová. O doutor Walter é professor da Universidade Federal de São Paulo e há três anos utiliza outras técnicas que possibilitam cirurgias delicadas, sem transfusão de sangue. Ele começou a fazer isso a pedido dos religiosos.
“O tratamento dos pacientes Testemunhas de Jeová ajudava a beneficiar outros pacientes, porque, com essa experiência, nós estamos evitando a transfusão sangüínea em outros pacientes, e, conseqüentemente minimizando riscos”, declara Walter Gomes.
O primeiro passo é acabar com os sangramentos desnecessários. Isso é possível com o bisturi elétrico, que cauteriza, ao mesmo tempo em que corta. Outra técnica é dar para o paciente, antes da cirurgia, um hormônio que estimula a produção de glóbulos vermelhos. É uma forma de combater anemias.
“Mesmo se ele tiver uma perda durante a cirurgia, ele já está preparado para recuperar. O paciente vai para a cirurgia com uma quantidade maior de sangue, fabricado por ele mesmo”, observa o cirurgião Walter Gomes.
Gabriela foi operada por uma outra equipe, comandada pela doutora Luciana da Fonseca - que segue a mesma linha. “É uma satisfação muito grande, porque, na verdade, eu cumpri o meu objetivo, que foi agradar e respeitar um direito do paciente”, constata a cirurgia cardíaca.
Quando se encontra o equilíbrio entre medicina e fé, quem ganha é o paciente. “Agora estou correndo, brincando, pulando...”, diz Gabriela.
“Se houver algum acontecimento catastrófico em que o paciente realmente precise de transfusão de sangue vai ser um dilema de consciência. O paciente religioso pede para não tomar a transfusão e eu espero nunca ter que passar por essa decisão”, comenta Walter Gomes.
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Para Pesquisa: Técnicas Alternativas Médicas Para Transfusão de Sangue em Testemunhas de Jeová. Sem Sangue. No Blood.
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