Hoje vamos falar sobre a toxoplasmose ocular, uma doença extremamente comum no Brasil e principalmente aqui no Sul. Quem fala com vocês é o Dr. Mário Bulla, médico oftalmologista, especialista em retina. A toxoplasmose é uma doença causada por um protozoário chamado Toxoplasma gondii e é muito conhecida como a doença do gato pois o gato faz parte do ciclo reprodutivo deste parasita, mas a maioria das infecções em humanos nem provém de contaminação através das fezes deste animal, mas sim através da ingestão de alimentos contaminados como carne mal passada ou até água contaminada. Em áreas endêmicas como o Rio Grande do Sul, pode-se detectar presença de anticorpos IGG para toxoplasma positivos em torno de 50% da população, ou seja, nestas áreas metade das pessoas já tiveram contato com o toxoplasma. Acredita-se que a infecção geralmente se de na inância. Os sintomas da toxoplasmose podem variar muito, além de afetar outros órgãos como pulmão, fígado e cérebro, no próprio olho o espectro de manifestações é muito amplo. Muitos pacientes podem ter a infecção e nem ficam sabendo pois a infecção pode ser assintomática e é descoberta através de uma consulta oftalmológica de rotina, quando o médico detecta uma cicatriz no fundo do olho. Muitas vezes quando a pessoa apresenta a cicatriz no fundo de olho, houve toxoplasmose congênita, ou seja a infecção foi passada pela mãe que teve contato com o parasita durante a gestação ou então a pessoa pegou a infecção durante a infância e nem percebeu a piora da visão. Nos casos onde os pacientes relatam sintomas, muitas vezes se dá da seguinte forma: moscas volantes, nuvem na frente da visão que se move conforme a pessoa mexe o olho, podendo haver grande embaçamento e até escurecimento da visão, nos casos mais graves pode haver olho vermelho, dolorido e com fotofobia, que é uma sensibilidade exagerada e desconforto à luz. Quando a toxo apresenta sintomas geralmente requer tratamento que é feito a base de antibióticos e corticóide para reduzir a inflamação ocular. Tradicionalmente se utilizava sulfadiazina com daraprin, mas, atualmente devido a dificuldade de encontrar sulfadiazina nas fármácias tem se optado por bactrin F. Dependendo do paciente, se apresenta alergia, há outros antibíoticos que podem ser utilizados. Se a inflamação for muito intensa pode-se também utilizar colírio de corticóide e um colírio para manter a pupila dilatada. O tratamento é bastante longo, geralmente mais de 45 dias e a recuperação é lenta e progressiva. Nos casos mais graves pode haver uma opacificação do vítreo que é a gelatina interna do olho e esta opacidade pode ainda incomodar o paciente mesmo após o tratamento, importante ficar atento pois alguns casos podem evoluir com descolamento de retina, neste caso é necessária uma cirurgia de urgência.
Se a lesão não afeta nenhuma área importante como a mácula ou próximo do nervo óptico, a recuperação é muito boa, muitas vezes com recuperação total da visão, quando a lesão afeta a mácula que é o centro da visão, ela deixa uma cicatriz que pode atrapalhar a visão de forma permanente. Pacientes que tiveram toxoplasmose congênita é muito comum haver cicatriz macular e, nestes casos, não temos ainda um tratamento efetivo, nem mesmo com ciruriga. O diagnóstico é feito na consulta com o oftalmologista geralmente através do exame de fundo de olho com a pupila dilatada chadado de mapeamento de retina, podendo algumas vezes serem solicitados exames como a angiografia fluoresceínica, retinografia, OCT (tomografia de coerência óptica) ou ecografia ocular, também podendo ser solitado exame de sangue para detectar anticorpos IGG e IGM para toxoplasmose, o que demonstra contato do paciente com o parasita, mas muitas vezes a lesão é tão característica que não requer nenhum exame complementar, apenas a consulta oftalmológica. Se você está com sintomas de moscas volantes, embaçamento ou nuvem na frente da visão é muito importante que faça consulta com oftalmologista o quanto antes, não apenas para tratamento no caso de ser toxoplasmose, mas também porque existem outras doenças como o descolamento de retina e a hemorragia vítrea que requerem tratamento, muitas vezes de urgência. Nos casos de ruptura retiniana associada a toxoplasmose o tratamento pode ser feito com fotocoagulação a laser, evitando o descolamento de retina.

Este vídeo não substitui a consulta com o oftalmologsita.

Autor:
Dr. Mário César Bulla
Cremers 28120
Médico Oftalmologista - Especialista em Retina

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