O comportamento normal da pressão arterial (PA) durante o sono é uma redução entre 10 e 20% em relação ao padrão diurno. Esse processo pode ser mensurado na monitorização ambulatorial da pressão arterial (MAPA) e os pacientes com este comportamento fisiológico são chamados de dippers.
Contudo, dois fenômenos podem ocorrer à noite: a PA não cair como deveria (non-dippers) ou haver uma PA acima dos limites (normal até 120/70), a chamada hipertensão arterial sistêmica (HAS) noturna.
Reparem então que estamos falando de duas situações diferentes, mas muitas vezes associadas: se a PA cai durante sono (padrão dipper vs non-dipper) e se a PA está dentro dos limites da normalidade dormindo (HAS noturna).
Ambas as situações estão associadas com maior risco de eventos cardiovasculares. A fisiopatologia inclui apneia do sono, hiperatividade simpática, disfunção endotelial, obesidade e resistência insulínica, entre outros. Apesar da indubitável associação com risco cardiovascular, discute-se a necessidade de tratar especificamente o período noturno. Para muitos pesquisadores, o importante era tratar a média da PA nas 24 horas.
Mas um estudo recente trouxe novidade importante. Um ensaio clínico recrutou 19 mil pacientes com hipertensão e randomizou para dois grupos: um com medicação em tomada única diária e outro com dose noturna.
O ponto fraco do estudo é que as medicações não foram padronizadas, mas seguiram escolha do médico assistente. Com isso, o grupo de dose noturna acabou usando um pouco mais de bloqueador de canais de cálcio e um pouco menos de diurético.
Os resultados mostraram uma redução de 44% no risco de evento coronariano, 49% no de acidente vascular cerebral (AVC) e de 56% na morte cardiovascular! Na análise multivariada, este resultado esteve associado com menor PA à noite e maior descenso noturno no grupo com dose à noite dos anti-hipertensivos, e o benefício ocorreu em todos os subgrupos estudados.
Qual a mensagem prática?
Mesmo os grandes ensaios clínicos multicêntricos devem ser repetidos para confirmação. Mas no paciente com boa adesão e uma MAPA mostrando hipertensão noturna, a dose dividida com posologia noturna pode agregar benefício com maior controle da PA e menor risco cardiovascular.
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Dr. Cotta Junior
Especialista em Cardiologia (RQE Nº: 4559) e Medico de Família e Comunidade (RQE Nº: 2157) com título reconhecido pela Associação Médica Brasileira - AMB.
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