O canabidiol é uma medicação que surge cercada por mitos e controvérsias. Por ser um componente derivado da cannabis, ela carrega o estigma da maconha consigo. Então há as pessoas que, por preconceito, não querem nem saber desse tipo de medicação e existem aquelas que acham que a própria cannabis, e não o canabidiol, é uma panaceia pronta para curar de câncer a dor de dente.
A verdade, como sempre, está em algum lugar no meio desses dois extremos.
O canabidiol (CBD) é um dentre mais de duas centenas de componentes encontrados nas plantas do gênero Cannabis. E, diferente do THC (o tetrahidrocanabidiol) não causa alucinações, psicose ou alterações de consciência. Ou seja, não dá nenhum barato.
O canabidiol parece ser excelente para tratar algumas formas de epilepsia e para controle da dor, mas na Doença de Parkinson (DPI), até agora, seus resultados são bem aquém do esperado.
E olha que ele é promissor: tem efeito antinflamatório e neuroprotetor. Mas isso apenas invitro. Ou seja, no laboratório. Quando se passa para estudos em ratos esses efeitos já não se tornam tão claros e não foram mensurados ainda em humanos.
A despeito da neuroproteção não ser uma meta alcançada com o CBD, ele foi testado clinicamente para os sintomas motores da DPI (tremor, rigidez e bradicinesia). E os resultados foram muito pífios, não gerando nenhuma recomendação para esse tipo de uso. Apenas para o tratamento da Discinesia parece haver algum benefício. Onde se viu algum resultado foi no controle dos sintomas não motores da DPI como dor, sono e qualidade de vida.
Todo mundo já deve ter visto o vídeo do cara com Parkinson, com discinesias graves, que fuma um baseado e para de se movimentar. Esse vídeo é largamente difundido pelas pessoas que são favoráveis ao uso da maconha medicinal. Ele é verdadeiro? Sim, ele é. Mas aí é que entra a mágica da estatística. Quando se avalia um grupo grande pacientes se descobre que a maioria não tem nenhum efeito benéfico, alguns melhoram e outros pioram. Aí entra o que chamamos de viés de não-respondente, que é basicamente o seguinte: quem usou o remédio e não teve efeito ou passou mal com ele não publica um vídeo no youtube com esse resultado. Então se tem a impressão que o remédio em questão funciona pra todo mundo.
Enfim, minha recomendação aos pacientes é que o CBD pode ser usado no tratamento da DPI, mas que não se deve ter uma visão fantástica dele. Como é uma medicação segura e com poucos efeitos colaterais, muitas vezes vale o teste.
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