Então quer dizer que Barack Obama vai visitar a cidade de Hiroshima. Foi lá que os americanos soltaram a primeira das duas bombas atômicas, que provocaram a rendição do Japão. O que acabou com a Segunda Guerra Mundial. O avião que lançou a bomba foi um B-27. Era um quadrimotor com um bico redondo, um bico todo envidraçado, como se fosse uma varanda de apartamento, com vista panorâmica. A tripulação chamava o avião de Enola Gay. E a bomba tinha o apelido de Big Boy. Ela foi carregada num compartimento entre os trens de pouso. Parecia inofensiva. Tinha o tamanho de uma caixa com garrafas de vinho. Matou 140 mil pessoas. E foi o ponto de partida para aquilo que a humanidade conheceu como o equilíbrio do terror. Os países que tinham um arsenal nuclear chantageavam os outros países que estivessem nessa mesma condição. Se você soltar uma dessas bombas no meu território, eu solto uma outra bomba no seu. Ninguém foi suficientemente louco para soltar. Eram basicamente os Estados Unidos e a União Soviética. A Guerra Fria entre as superpotências foi a guerra do medo. Eu cheguei a viver tudo isso muito de perto. Quando eu morava na Europa, minha casa ficava a um quilômetro de um entroncamento ferroviário, onde poderiam cair um SS-20 soviético. O SS-20 eram um míssil que voava baixinho, e que carregava uma ogiva que é um filhote tardio da bomba de Hiroxima. Passaram-se os anos, e ainda não aprendemos a lição. Países mais pobres como a Índia e o Paquistão também têm hoje a bomba atômica. Eles estão ao lado da Coreia do Norte. Que é bem mais pobre ainda. A visita de Obama ao Japão poderia ser uma viagem ao passado, uma visita a um museu. Mas não será bem isso. O pesadelo de Hiroshima continua nos nossos cálculos. E vai ser assim até que negociações multilaterais pelo desarmamento consigam desmontar a última bomba atômica. E ainda estamos longe desse objetivo. Infelizmente, muito longe. É assim que o mundo gira. Boa noite.
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