HISTÓRIA DA CIGANA TERENA, A PRINCESA CIGANA
A morte da “princesa cigana” se deu no dia 2 de março de 1883, em Pelotas, vítima de uma longa enfermidade da qual já sofria quando na cidade chegou.
Em vista da morte, aqui ocorrida, os boêmios – outra das expressões usadas para se referir aos ciganos – adquiriram alguns palmos de terra no cemitério público da cidade e lá construíram o túmulo da “velha Cigana Terena”, mulher do chefe da tribo acampada em Pelotas desde dezembro de 1882.
A morte da cigana Terena foi muito sentida pelo seu povo e, em vista do doloroso acontecimento, não lhes restou outra atitude que não a de observar o ritual que o caso exigia.
O corpo de Terena foi colocado na tenda, do também velho chefe, sobre uma colcha caprichosamente bordada. Ao lado do cadáver, consternados puseram-se os ciganos, inclusive as crianças, sendo que os mais velhos empunhavam quatro enormes velas de cera.
A cada momento o chefe dos ciganos começava um canto, espécie de miserere [composição musical], no que era acompanhado por crianças, homens e mulheres; formando-se uma gritaria melancólica envolta por uma nuvem de resina aromática que queimava junto ao corpo da cigana.
Na madrugada do dia seguinte, duas das bandas da cidade contratadas pelos “beduínos” tocavam no velório, à entrada da tenda mortuária. O sepultamento dar-se-ia, com as honras que a alta hierarquia da finada exigia, dia quatro, pela manhã.
Em sinal de respeito à memória da esposa do chefe da tribo, os ciganos andavam pelas ruas de Pelotas sem chapéu.
Aos curiosos que ao acampamento afluíram nos dias dois e três, em número extraordinário, eram proibidos de entrar na tenda. Diz a imprensa, que ali compareceu, ser enternecedor e sublime contemplar a dor e o luto que ia naquela improvisada aldeola, em que a falecida era objeto de adoração.
O enterro da cigana Terena Caldara, este era seu nome, diz a imprensa da época fora o mais concorrido que até aquele momento Pelotas havia presenciado.
Da tenda mortuária, foi o corpo de Terena conduzido à mão até a ponte do arroio Santa Bárbara [local próximo ao “camelódromo”], sendo então colocado em um carro fúnebre de primeira classe
Ao lado do carro fúnebre [coche, antiga carruagem fechada], segurando as alças do caixão, iam os boêmios, inclusive o velho chefe, levando cada um uma vela acesa com um tope de crepe.
À frente daquele numeroso cortejo, iam as duas bandas de música, entoando tristes e melodiosos trechos musicais.
Os ciganos durante todo o trajeto manifestavam a dor que sentiam em gritos de pesar e dramáticas entonações.
Os rituais da encomendação aconteceram na capela do cemitério, diante de expressivo número de curiosos.
O ataúde foi cercado por tochas acesas, conduzidas por lacrimosos rostos que refletiam a tristeza que lhes ia à alma.
Depois, foi o cadáver colocado no túmulo construído pelos ciganos
O caixão era de madeira polida, forrado interiormente de zinco e custosos adornos.
O velho chefe abraçado ao cadáver de sua antiga companheira não tinha ânimo e resignação para dar-lhe o último adeus, sendo dali arrancado a muito custo.
As mulheres e crianças soltavam gritos enternecedores.
Finalmente, dado o corpo ao sepulcro aquele angustiado grupo de ciganos voltou as suas tendas.
No dia seguinte, em romaria, ainda foram ao cemitério.
Um dos vários jornalistas que cobriram a cerimônia fúnebre, encerrando a notícia, comentava o acontecido dizendo haver assistido a muitos funerais mais de acordo com as exigências requisitadas pela moda que tinha culto entre os povos civilizados, mas nunca tão tristes e mais sentimentais ou tampouco com o cunho de tão eloquente sinceridade.
Terena Caldara, aqui enterrada em um dos túmulos, hoje, o mais visitado de nosso cemitério público, o menor indício de omissão de socorro por parte dos médicos daquele período, além do que a cigana já chegou doente em Pelotas, portanto, a enfermidade que a matou não foi contraída nesta cidade.
De qualquer forma, a razão do túmulo da cigana Terena ser o mais visitado e a ela serem atribuídos certos poderes, além de gozar da fama de atender aos pedidos daqueles que a ela recorrem.❤️❤️🙏🙏
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