A prática de agradecer pelas coisas, pessoas e acontecimentos da vida ativa as áreas do cérebro ligadas ao prazer e ao afeto
Marcia Luz é psicóloga e, há quase trinta anos, trabalha com o desenvolvimento humano em espaços corporativos. Em 2013, ela também deu início a uma série de cursos online focados na prática da gratidão. Depois de receber diversos relatos de seus alunos sobre os benefícios dos exercícios propostos por ela, decidiu buscar o respaldo da ciência para embasar as experiências observadas. Agora, ela acaba de defender sua tese de doutorado pela Flórida Christian University, nos Estados Unidos, sobre os efeitos causados no nosso organismo pelos rituais diários de agradecimento.
“Existe uma área no nosso cérebro chamada núcleo accumbens, uma estrutura que está relacionada ao sentimento de prazer e recompensa”, diz a psicóloga. “Quando são liberadas substâncias como serotonina e dopamina, neurotransmissores ligados ao nosso bem-estar, esse núcleo avalia o que motivou essa liberação positiva e sinaliza para outras regiões repetirem o comportamento. E a gratidão é um desses motivadores”, explica. Isso significa que, quando nosso corpo percebe que algo bom está acontecendo com ele, começa a trabalhar para que esse estímulo esteja sempre disponível.
E o que podemos fazer para alimentar esse sentimento? À Vida Simples, Marcia sugere três pequenos exercícios diários:
1) Comece cuidando de você “Nós só estamos aqui, pensando sobre essas questões agora, porque temos um corpo”, lembra. Por isso, a primeira tarefa é zelar por ele – Marcia costuma chamá-lo de templo da gratidão. É essa estrutura que nos sustenta que permite que vivenciemos qualquer outra situação. “Se alguém nos faz algo bom, somos gratos a essa pessoa e queremos retribuir a gentileza dela, não?”, questiona. Precisamos, então, pensar da mesma forma com relação a nós mesmos. Perceba o que você tem ingerido (alimentos, bebidas, sentimentos), a que condições tem submetido seu corpo e como está sua relação com ele. O autocuidado é uma forma de agradecer nossa casa particular por cada segundo de trabalho que nos mantém vivos. 2) Tenha um caderno da gratidão Essa já é uma prática bem conhecida internet afora. Trata-se de um caderno que deve ficar ao lado da sua cama, sempre acompanhado de uma caneta ou um lápis. O intuito é que, ao acordar ou antes de dormir, você escreva dez coisas pelas quais é grato naquele dia. Pode ser que, no início, exista certa dificuldade em elencar todos esses motivos, mas Marcia garante que a questão está toda no treinamento do olhar: “Não é para ficar procurando coisas estratosféricas. Tem gente que acredita que só terá reais motivos para praticar a gratidão quando ganhar na loteria, ser promovido ao cargo dos sonhos ou encontrar um príncipe encantado”. Ao invés disso, foque nas pequenas coisas. “Agradeça pela sua cama, pelo travesseiro confortável, pela roupa que está vestindo, pelos seus olhos, que te permitem enxergar, pela sua boca, que te dá a possibilidade de falar, pelo alimento, pelo banho quente…”, diz ela.
3) Busque ressignificar as dificuldades Outro exercício sugerido por Marcia é descobrir os aspectos positivos das situações mais desafiadoras – e colocá-los no papel também. “Vamos imaginar que você perdeu o emprego”, aconselha. “Isso é triste, claro. Mas será que não há absolutamente nada de bom nesse fato?”. Experimente escrever o que você poderá fazer agora que não tem mais horários a cumprir em uma empresa, como passar mais tempo com a família, procurar um trabalho que converse com seu propósito de vida, fazer um curso em uma nova área, tirar um novo projeto da gaveta ou mesmo investir um tempo de qualidade em você. “Continuaremos sentindo a perda, mas com mais leveza, porque tiraremos o foco da dor, do obstáculo, e o colocaremos nas oportunidades”, garante a psicóloga.
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