Passagens da Cultura Política Brasileira
Aula 04
Ementa: Este curso é um panorama de algumas das principais experiências de cultura política brasileira no século XX. Tal trajeto por obras e circunstâncias culturais também significa uma divulgação, já que muitas dessas realizações têm recebido pouca ou nenhuma atenção, apesar de serem fenômenos do maior interesse tanto do ponto de vista mais propriamente cultural quanto político. Difamação, exclusão, prisão, tortura e assassinato são algumas constantes que têm marcado a relação entre cultura e a luta dos trabalhadores no Brasil. Esse curso vai na contramão das tendências contemporâneas e se posiciona como mais um esforço para desenterrar os laços que formaram o rio vermelho da cultura brasileira. O ponto de chegada é o problema de como produzir uma nova relação entre esquerda e cultura.
Aula 4: Café, de Mário de Andrade
Dependência e revolta em Café (1933; 1939; 1942) de Mario de Andrade.
Os versos da “tragédia coral”, da “tragédia secular”, Café, de Mario de Andrade, tratam de uma revolta de trabalhadores na São Paulo pós-crise de 1929 para pensar possibilidades representacionais da insurgência através da retomada e da rearticulação de uma experiência de coro bastante particular, além de refletir sobre como dar forma aos aspectos específicos do subdesenvolvimento e da dependência dentro de um quadro modernizador. A superexploração da força de trabalho nas lavouras no interior paulista e no porto de Santos é colocada ao lado do sentido agroexportador da economia brasileira, o que leva os trabalhadores a literalmente tomarem os meios de produção, só que no caso da ópera, o então principal meio de comunicação: o rádio. A hipótese de trabalho é que a escolha do oratório para lidar com um assunto profano inscreve o imperativo de lidar com temas explicitamente políticos dentro de formas híbridas e de maior apelo popular: a fusão ainda confusa entre ópera, épica e oratório dá sinal de um misto de sonho individual e encomenda social que objetivamente causa a obra como um todo. O canto melancólico, mas convicto, parece repor certa negatividade existencial dos momentos de emergência social e política: humilhação e miséria causadas pela depressão econômica e combatividade. Talvez a questão mais crucial seja o imperativo da revolução e da expropriação dos expropriadores ainda que apenas imaginária e simbolicamente. Afinal, que destino, se não o trágico, para artistas e intelectuais que se recusam a pensar uma revolução, ainda que apenas imaginariamente?
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