A atriz Viola Davis atraiu suspiros e aplausos da platéia durante uma entrevista eletrizante em Los Angeles na noite de terça-feira 13/02/2018. Em uma poderosa conversa com a diretora executiva da Women in the World, Tina Brown, Davis falou desde sua infância difícil, até de suas experiências em Hollywood como mulher negra. A atriz não poupou palavras para denunciar a situação de vulnerabilidade de sua carreira de sucesso. Mesmo agora, com uma carreira de 30 anos e muitos trabalhos reconhecidos, incluindo os prêmios Emmy, Tony e Academy Awards, ela compartilhou que ainda se encontra "empolgada" pela discussão sobre igualdade de salários e de distribuição de papéis importantes no cinema.
Viola tocou em assuntos desconfortáveis para todas em Hollywood:
"Tenho uma carreira que é provavelmente comparável às de Meryl Streep, Julianne Moore e Sigourney Weaver. Elas vieram de Yale, vieram da Julliard, vieram da NYU. Elas trilharam o mesmo caminho que eu e, ainda assim, não estou nem perto delas. Nem em relação ao dinheiro e nem em relação às oportunidades de trabalho, nada perto." Observou a atriz de 52 anos, em uma vigorosa análise das desigualdades experimentadas por mulheres negras em Hollywood.
"As pessoas dizem, 'Você é a Meryl Streep negra. Nós te amamos. Não há ninguém como você'. Ok, então se não há ninguém como eu, que me paguem o que eu mereço receber", disse ela, provocando um suspiro audível dos mais de 200 participantes do salão no Neuehouse Hollywood.
Davis argumentou:
"E isso precisa se estender a ofertas de papéis substanciais, também. Como artista, eu quero construir o ser humano mais complexo, mas o que eu recebo é a terceira garota da esquerda". Quando Tina Brown perguntou sobre sua participação limitada no filme Doubt (em português "A Dúvida"), de 2008, para o qual ela ganhou uma melhor indicação de atriz coadjuvante, Davis disse que seus dias de entusiasmo para provar o melhor de si mesma acabaram.
Davis citou Shonda Rhimes, famosa roteirista, cineasta e produtora de séries norte-americanas, entre elas: Grey's Anatomy, Scandal, How to Get Away With Murder.
"Eu sempre menciono o que Shonda Rhimes disse quando obteve o Prêmio Norman Lear nos Prêmios de Guildas dos Produtores há cerca de dois ou três anos". "Ela levantou e ela disse: 'Aceito este prêmio porque acredito que eu mereço isso. Porque quando eu ando pela sala e me pergunto o que eu quero, eu espero obtê-lo. E é por isso que eu acredito que mereço este prêmio. Porque Norman Lear foi um pioneiro, e eu também. "E isso é revolucionário como uma mulher, mas é duplamente revolucionário como uma mulher negra. Porque temos andado no vagão do trem - nós realmente temos. E é tempo de isso. "
Davis também lembrou de sua infância, disse que foi criada em situação de extrema pobreza em Rhode Island, por um pai alcoólatra que ela testemunhava abusar de sua mãe.
"Eu era um degrau a menos do que pobre", ela disse, descrevendo sua casa, na infância: "infestada de ratos, indo à escola com fome, fedendo e coberta de vergonha. "As pessoas vêem a pobreza como apenas um estado financeiro", disse ela. "A pobreza se infiltra em sua mente, ela se infiltra no seu espírito, porque tem efeitos colaterais".
"Essa experiência de sentir-se "invisível" e traumatizada é o cerne do seu compromisso de falar para aqueles que não conseguem falar por si mesmos", disse ela, incluindo um discurso emocionante realizado na Marcha das Mulheres de 20 de janeiro de 2018, em LA, sobre mulheres negras: "as mulheres que não têm dinheiro e não têm a Constituição, não têm a confiança e nem as imagens em nossa mídia que lhes inspirem uma sensação de auto-estima o suficiente para quebrar seu silêncio que está enraizado."
Viola encerrou dizendo que:
"Me custou muito estar nesse palco e compartilhar minha história pessoal", "O modo como a vida funciona é que você precisa custar-lhe algo. É quando você sabe que você realmente fez os sacrifícios."Se você está dedicado a mudar, deixe-o custar-lhe algo".
Não é de hoje que as mulheres negras denunciam as desigualdades entre brancas e negras. A disparidade salarial é só a ponta do Iceberg. Ainda há muita resistência em perceber que a opressão de gênero une mulheres brancas e negras, mas o racismo nos separa. AS palavras de Viola nos inspiram a prosseguir resistindo.
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