Diante de toda a incerteza e toda a imprevisibilidade, espero contar com sua total compreensão e clareza de que se trata de um exercício absolutamente preliminar, tentando trabalhar da melhor forma com tudo o que não temos de cenários claros.
Outro ponto: este exercício hoje precisará ser calibrado continuamente e mês a mês, até que possamos medir adequadamente impactos e realizar estimativas mais objetivas.
Vamos lá:
O crescimento do PIB em 2020, que era previsto entre 2,2 ou até um pouco mais entre janeiro e fevereiro pelo Relatório Focus do Banco Central, agora está previsto em -1,2%, ou seja, uma perda de 3,5 a 4 pontos percentuais.
Na minha opinião, a queda será muito maior do que isso, já é quase certo. Entre os maiores bancos do País, já há projeções apontando quedas superiores a 2 ou 3% em 2020.
Se nos lembrarmos da greve dos caminhoneiros em 2018, o impacto estimado no PIB daquele ano foi de uma perda de 1,2 ponto percentual.
Assim, me parece extremamente otimista imaginar que todo o terremoto que estamos vivendo a partir de março, o aprofundamento da crise em abril, o longo período de recuperação que virá depois e o enorme enfraquecimento de todas as contas públicas e privadas possa implicar numa piora do PIB somente na casa do triplo do que foi a greve dos caminhoneiros.
Porque começo a falar do mercado, abordando o PIB?
Porque, como efeito do impacto dramático da pandemia da COVID-19 na economia como um todo, certamente teremos a maior e mais rápida deterioração de emprego e renda que o Brasil já viveu.
E, justamente no emprego e na renda é que está o principal motor de crescimento e queda do Foodservice – é assim há muitos anos e não há razão para se imaginar diferente para os próximos anos.
Já considerando os primeiros momentos de impactos da pandemia e suas consequências esperadas, me parece muito provável encontrarmos um Brasil com mais de 20% ou até 25% de desempregados, entre formais e informais.
Mesmo que o mercado possa reabsorver rapidamente uma parte desta mão de obra a partir de algum momento do 2º semestre, já é fato de que o desemprego ao longo ano será muito grande e que chegaremos no final de 2020 com um nível de emprego muito menor do que no final de 2019.
Ao lado do tema de emprego, a renda já está em processo acelerado de corrosão e é difícil imaginar que haja alguma recomposição durante este ano, diante do tamanho do desemprego e da situação totalmente débil de quase todas as atividades da economia, durante e após a crise.
Tomando estas variáveis como ponto de partida, já teríamos razões suficientes para afirmar que o Foodservice brasileiro JÁ TEM em 2020 seu pior desempenho em todos os tempos.
Para lembrar: o pior desempenho até então foi o ano de 2015, quando, em termos reais, o Foodservice caiu 3%.
Mas, além destes fundamentos econômicos, de emprego e de renda, há outros pontos de enorme relevância, atuando CONTRA o mercado:
- insegurança em relação à circulação e frequência de lugares públicos
- preocupações com segurança alimentar e outras questões de saúde
- mudanças de hábitos – consumo doméstico, delivery, etc
- baixíssimos níveis de confiança do consumidor e dos empresários com o futuro
- elevação altíssima do endividamento e da inadimplência
- um número inédito de fechamento de estabelecimentos por todo o País
- aumento da degradação de questões de segurança (assaltos, roubos, furtos, etc)
Nos munimos deste cenário, que inclui análise de cenários, vários números e projeções e boa carga de experiência e sensibilidade sobre o Foodservice brasileiro para formular nossa primeira visão do que vem pela frente em 2020.
Indo do macro para o micro: o Foodservice poderá cair entre 25 e 30% versus 2019, estamos falando de 8 a 10 vezes a pior queda até então registrada no mercado.
Parece absurdo, mas fica mais fácil entender isso quando vemos a 2ª quinzena de março e o cenário mais provável para abril apontar algo na casa de 75 a 80% de queda em relação ao ano passado.
A outra parte da explicação desta queda absurda é que tudo leva a crer que o início da recuperação do mercado, seja ela em maio, junho ou julho, será lenta e gradual, por tudo o que descrevemos acima.
Desenhamos uma curva de retomada que já inicia em maio, assumindo que teremos algum grau de flexibilização na abertura dos estabelecimentos dentro de um mês.
No gráfico que aparece na tela, trabalhamos com o mercado partindo de maio, com 35% do faturamento do ano passado, variando de 45 a 65% entre junho e agosto e, a partir de então, continuando uma recuperação que poderá chegar, em dezembro, à casa de 90% do que foi o mercado no ano passado.
Se a curva for aproximadamente esta, o que minimizará o ano de 2020 como um todo terá sido o 1º trimestre, quando houve algum nível “normal” de variação.
Finalizando: esta é a projeção moderada que temos neste momento e certamente ela será aprimorada nos próximos meses ou semanas.
Um grande abraço
Sergio Molinari
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