A segunda edição do programa Quebra das Ideias, da Periferia em Movimento, abordou a “necropolítica” - quando governantes adotam como prática de Estado matar diretamente ou deixar morrer grupos considerados “indesejáveis”: o povo negro, os povos indígenas, das periferias, a população LGBT.
“A primeira coisa que você pensa quando acorda não é na sua vida, mas como você vai sobreviver”, resumiu Elaine Mineiro, mãe, arte-educadora e articuladora cultural. Em sua fala, Elaine lembrou do Mapa da Desigualdade 2019, que aponta que a idade média ao morrer em Cidade Tiradentes é 22 anos menor que nos bairros ricos: 58 anos no primeiro, 80 no segundo.
“Essa política não só pensa na morte, mas como essa morte vai se dar, pensando que a necropolítica é uma estratégia racista para povos racializados (…), desde a infância até hoje quando encontramos a política”, apontou o educador Will Ferreira, 30 anos, homem preto e LGBTQ+ que mora em Parelheiros (Extremo Sul de São Paulo). “Quando a gente fala de necropolítica, falamos de um racismo que tá pulverizado, no ar”, continuou.
O reflexo mais visível dessa política é a estatística que aponta que a cada 4 pessoas assassinadas no Brasil em 2017, 3 eram negras; e entre 2007 e 2017, a taxa de homicídio de negros cresceu 33,1%, enquanto a taxa de assassinatos de não-negros aumentou 3,3%, segundo o Atlas da Violência. Além disso, o País tem a terceira maior população carcerária do mundo – 812 mil presos, sendo que 65% são negros.
As possíveis saídas também foram apontadas na entrevista: do território ao poder político. No caso do Will, ele atua com crianças, adolescentes e jovens periféricos, discutindo identidades, gênero, sexualidade e o enfrentamento à violência comunitária urbana. Fundou o grupo Juventude Politizada de Parelheiros, integra o coletivo Rusha Montscho e trabalha como educador social do projeto RUAS no Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente – CEDECA Interlagos.
Já Elaine, além de coordenar a rede de cursinhos populares Uneafro Brasil e no Samba das Pretas, atua na Coalizão Negra por Direitos, no grupo Samba das Pretas da Cidade Tiradentes e na Comunidade do Jongo dos Guaianás.
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