A Pandemia do coronavírus trouxe nos últimos anos um intenso debate nas sociedades democráticas sobre a importância da ciência e da pesquisa científica. Ao mesmo tempo, reverberando um esgotamento das promessas modernas de emancipação pela razão, produziu um descrédito em relação às Universidades e à pesquisa científica, a ponto de multidões negarem a importância das vacinas e do conhecimento científico. Será que podemos ampliar nossa visão para outras formas de pensamento, sem, contudo, negar a importância da ciência? Se isso for possível, precisamos entender como funciona a lógica da pesquisa científica, para então demarcar a ciência da não ciência, não para rejeitar ou desqualificar outros saberes, mas para evidenciar que se a ciência possuiu uma eficácia específica, calcada na experiência, ela o tem justamente porque se diferencia de outras formas de pensamento e prática. Nesse sentido, continuando nossa cartografia epistemológica, vamos tratar do racionalismo crítico do filósofo da ciência Karl Popper. Influenciado pela crítica da razão do sujeito em Kant, Popper buscará em sua obra “Lógica da pesquisa científica” encontrar um critério que possa demarcar a ciência da não ciência. Primeiramente Popper se desvincula do positivismo, criticando nesse o indutivismo, a crença de que todo enunciado científico e com sentido se calca diretamente em um evento material e empírico. Ao contrário, segundo Popper a ciência opera dedutivamente, inspirando-se na imaginação e na Metafísica para ter ideias e inventar teorias, mas cujas hipóteses possam ser testadas pela experiência. Temos de deduzir teorias ou histórias de nossas intuições e ideias, mas inventando narrativas e explicações que possam ser refutadas pela realidade. Se uma teoria, qualquer que seja ela, não puder ser logicamente coerente, nem ter a capacidade de ser eventualmente negada pela experiência empírica, então ela não será ciência. É pelo critério da falseabilidade, a possibilidade de uma teoria ser desmentida, que uma teoria pode ser considerada científica. No vídeo nos aprofundamos nessa discussão, bem como problematizamos a relação entre objetividade científica e convicção subjetiva.
