A democracia na Itália tem a vocação para de vez em quando produzir uma enorme piada. Desta vez, ela tem nome e sobrenome. Se chama Giuseppe Conte. É um advogado de Florença sem nenhum passado político, que foi ontem indicado ao presidente da República para ser o novo primeiro-ministro. A sugestão partiu da Liga e do Movimento 5 Estrelas, dois partidos que foram individualmente os mais votados na eleição legislativa de dois meses atrás. Como nenhum partido ou bloco partidário elegeu a maioria dos deputados, a Itália estava sem governo. A Liga e o 5 Estrelas não têm muita coisa em comum. A não ser o populismo e a aversão pela União Europeia. Matteo Salvini, da Liga, não queria que o novo governo fosse chefiado pelo líder do 5 Estrelas, Luigi Di Maio. E a recíproca também era verdadeira. Foi por isso que o advogado Giuseppe Conte virou uma terceira opção, um nome de conciliação. Acontece que Conte divulgou um currículo pessoal, em que dizia ter lecionado ou feito cursos de especialização, em universidades estrangeiras de muito prestígio. Dois jornais italianos foram atrás e descobriram que era tudo mentira. A Universidade de Nova York, por exemplo, não tinha nenhum registro dele como professor ou aluno. E um instituto da Áustria ensina idiomas, e não ciências jurídicas. Hoje, quando anoiteceu em Roma, o nome de Giuseppe Conte já havia subido no telhado. Era pouco provável que o presidente Sergio Mattarella indicasse um mentiroso para presidir o governo. Os dois partidos que o indicaram podem ir atrás de outro nome. Ou então Mattarella pode convocar novas eleições para tirar o país desse beco político sem saída. Mas se a Liga e o 5 Estrelas insistirem, o governo de direita que eles podem formar prevê expulsar refugiados e imigrantes sem documentos. E também querem dar uma mesada de trez mil e trezentos reais para as famílias mais pobres. O que aumentaria o rombo fiscal italiano, para o desespero da União Europeia. É assim que o mundo gira. Boa noite.
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