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PARTE III
O Purgatório
Ontem à noite, meus caros filhos, havia-me deitado e, não conseguindo adormecer logo, estava pensando na natureza e no modo de existir da alma; como ela era fei ta; de que modo poderia encontrar-se e falar na outra vida, estando separada do corpo; como faria para trasladar-se de um lugar a outro; como nos poderemos conhecer uns aos outros depois de mortos, não sendo senão puros espí ritos. E quanto mais pensava nessas coisas, mais obscuro me parecia tal mistério.
Enquanto divagavà por essas idéias e outras seme lhantes, adormeci, e me pareceu que estava na estrada que conduz a ... (e nomeou a cidade) e que caminhava naquela direção. Andei durante algum tempo, atravessei lugares para mim desconhecidos, até que, em certo mo mento, ouvi que alguém chamava pelo nome. Era a voz de uma pessoa parada na estrada. - Vem comigo-disse- e poderás ver logo o que desejas!
Obedeci imediatamente. Mas a tal pessoa andava com a rapidez do pensamento, e eu no mesmo passo que meu guia. Andávamos de maneira tal que nossos pés nem to cavam o solo. Chegados por fim a uma certa região que eu desconhecia, o guia parou. Erguia-se sobre uma pree minência do terreno um magnífico palácio de construção admirável. Não sabia onde estava, nem sobre que monta nha; nem me recordo mais se estava realmente sobre uma montanha ou se estava no ar, sobre nuvens. Era inacessí vel e não se via caminho algum para poder chegar até ele. Suas portas eram de considerável altura.
- Sobe a esse palácio - me disse o guia.
Como vou fazer? - observei eu como fazer para subir? Aqui por baixo não há entrada, e não tenho asas.
-Entra! - replicou ele com autoridade. E, vendo
que eu não me movia, disse: Faz como eu: levanta os braços com boa vontade e subirás. Vem comigo.
E assim dizendo, levantou ao alto as mãos, dirigin do-as para o céu. Eu também abri os braços, e me senti num só instante alçado pelos ares como uma nuvenzinha. Eis que chego aos umbrais do palácio. O guia me acom panhara até lá.
Que há aqui dentro? - perguntei.
Entra, visita-o e verás. No fundo, num salão, en contrarás quem te ensinará.
E desapareceu, ficando eu só, como guia de mim mesmo.
Entrei no pórtico, subi as escadas e cheguei a um salão verdadeiramente régio. Percorri salas espaçosas, aposentos riquíssimos de ornamentos e longos corredo res. Caminhava com velocidade acima da natural.
Cada sala brilhava com magnificência de tesouros espantosos, e naquela velocidade percorri tantos aposen tos que me foi impossível contá-los.
Mas uma coisa era mais admirável: para correr com a rapidez do vento, eu não movia os pés; suspenso no ar com as pernas juntas, deslizava sem esforço como sobre um cristal, mas sem tocar o pavimento.
Passando assim de um aposento a outro, vi finalmen te no fundo de um corredor uma porta. Entrei e me en contrei num salão grande, que superava em magnificência a todos os demais. No fundo dele, sobre uma cadeira de espaldar alto, avistei um Bispo, majestosamente senta do, em posição de quem se prepara para dar audiência. Aproximei-me com respeito e fiquei admiradíssimo por reconhecer naquele prelado um íntimo amigo meu. Era Dom... (e disse o nome), Bispo de ..., falecido havia dois anos. Parecia nada sofrer. Seu aspecto era radiante. afetuoso e de tão grande beleza que nem sequer poderia exprimir.
-Oh! Senhor Bispo, vós por aqui? - perguntei, com grande alegria.
- Não me vê?- respondeu o Bispo.
Mas, como isso? Ainda estais vivo? Não morrestes?
Sim, morri.
Se morrestes, como é que estais sentado aqui tão radiante e satisfeito? Se ainda estais vivo, por caridade, esclarecei-me: na diocese de... há já um outro Bispo, Dom..., em vosso lugar. Como é que se esclarece essa confusão? Esteja tranqüilo; não se preocupe que já estou
morto... - Ainda bem que já está um outro em vosso lugar.
Sei disso. E o Sr., Dom Bosco, está vivo ou está morto?
Eu estou vivo. Não vedes que estou aqui em cor
po e alma? Aqui não se pode vir com o corpo.
Mas, sem embargo, aqui estou.
- É o que lhe parece; mas não é assim...
Eu me apressava em falar-lhe, fazendo perguntas e mais perguntas, sem receber resposta alguma.
Como pode ser que eu, que estou vivo, esteja aqui convosco, Senhor Bispo, que já morrestes?
Tinha medo de que o Bispo desaparecesse, pelo que lhe roguei:
- Senhor Bispo, por caridade, não me deixeis. Ne cessito saber muitas coisas. Dizei-me, Senhor Bispo, salvastes vossa alma?
O Bispo, vendo-me tão ansioso, disse: - Não se aflija
tanto e fique calmo, que não fugirei. Pode falar. Dizei-me, Senhor Bispo, estais salvo?
Olhe-me; observe como estou robusto, cheio de louçania e brilho.
Seu aspecto me dava realmente a certeza de que es tava salvo; mas, não me contentando com essa impres são, repliquei:
continua .....
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