Presidente mais longevo da Petrobrás, o baiano, economista, pesquisador e professor titular aposentado da Universidade Federal da Bahia (UFBA), José Sérgio Gabrielli, aos 72 anos, mantem-se ativo produzindo reflexões sobre a situação do Brasil, desenvolvimento e investimento nacional.
Em entrevista aos Jornalistas Livres (assista a íntegra abaixo), Gabrielli fala dos impactos da guerra entre Rússia e Ucrânia sobre os preços do Petróleo e derivados. Segundo ele, o aumento dos preços se deve à retirada da oferta do petróleo russo do mercado internacional.
Gabrielli explica que a variação dos preços de petróleo e preços de seus derivados “são duas coisas distintas”. “Petróleo é mercadoria primária, commodity, cujos preços variam a partir da sua oferta (ou escassez) e também pela situação dos contratos futuros - onde o mercado financeiro atua e impacta fortemente. Os preços dos combustíveis refletem a combinação de guerra, elementos financeiros, estrutura de mercado e políticas nacionais de abastecimento”.
Golpe e Privatização
Segundo o ex presidente da Petrobrás, “A política do petróleo foi um dos componentes importantes que motivaram o golpe contra a presidenta Dilma. As mudanças realizadas em 2010 nessa política tiveram muita resistência das grandes potências internacionais, em particular a americana.”
Afirma ainda que “Temer ao assumir a presidência buscou realizar três medidas prioritárias junto ao setor e à Petrobrás:
1- acabar com a operação única do Pré-Sal Brasileira por parte da Petrobras (realizada); 2- acabar com o contrato de partilha da produção (que não conseguiu) e
3 – desmontar a Petrobrás, transformando-a de uma empresa integrada forte, de energia, para ser uma empresa voltada exclusivamente para a exportação de petróleo cru (que continua em processo).”
Ao comentar sobre a reversão das privatizações, Gabrielli diz que “a recompra das ações da Petrobrás seria uma política impossível de se realizar. Ele considera que seu elevado custo demandaria do Estado Brasileiro recursos públicos que seriam necessários para outros fins. Para ele, o foco não deve ser pagar investidor internacional por ações da Petrobras.
“A Soberania Nacional e Energética é fundamental. E toda grande nação tem a segurança energética como parte fundamental do seu projeto de segurança nacional”. O petróleo é uma mercadoria absolutamente estratégica hoje. Afinal, tudo o que existe no mundo hoje, ou foi produzido com petróleo, ou foi transportado pelo petróleo. Portanto o petróleo é absolutamente indispensável para qualquer processo de crescimento”. Para Gabrielli, repensar a matriz energética brasileira e retomar o papel da Petrobrás são pontos necessários para a retomada da Soberania Energética Nacional.
E uma transição energética só se efetivará quando houver mudanças no aparato de utilização de energia, nos motores, no desenho urbano, nos equipamentos de habitação. “É uma mudança muito mais profunda da sociedade e que não será resolvida facilmente. Hoje 80% da matriz energética mundial está baseada em combustíveis fosseis, em 2050 a previsão é de que eles representarão 72%.”
Gabrielli explica também que retomar o papel da Petrobrás significa mudar a estratégia da Petrobrás, por consequência aprovar um novo conselho. “Sem mudança no plano estratégico a Petrobrás, nada muda”.
Essas mudanças deveriam contemplar três pontos:
1 - retomar a integração “do poço ao posto”, voltando ao modelo tradicional das grandes empresas de petróleo, que são empresas integradas;
2- dar ênfase à expansão da capacidade de refino no Brasil e
3 - retomar programa de investimentos e assim o protagonismo na expansão da economia brasileira e do setor de petróleo e gás no Brasil, ampliando seus investimentos em alguns nichos de energias renováveis.
Entretanto, ele considera que qualquer mudança nos rumos da estatal dificilmente ocorrerá antes do dia 13 de abril de 2023, que é quando se encerra o mandato do atual conselho de administração.
Nessa entrevista, Gabrielli fala ainda sobre reversão de paridade dos preços internacionais, aumento da produção de óleo cru e refino, reabilitação da energia nuclear, investimentos no Nordeste, poluição, Elon Musk e veículos elétricos, Lula Presidente, Petrobrás e Lava Jato.
Gabrielli responde a todas as perguntas de forma direta e nos dá uma aula sobre energia, petróleo, gás e desenvolvimento nacional.
Por Jornalistas Livres, Laura Capriglione e Tatiana Scalco
Edição: Inês Cardoso
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