Palestra de encerramento do Prof. Dr. Álvaro Comin feita no Congresso do GETRAB-USP, realizado no dia 04/03/2021 em parceria com a OAB-CE, sobre Impactos da tecnologia e da neurociência no mundo do trabalho.
O debate em torno do tema IA -Inteligência artificial envolve a problemática sobre aumentar ou não o desemprego na substituição do trabalho humano pela máquina. Ao mesmo tempo que destrói algumas formas de trabalho, gera ocupações novas e mais salutares. O trabalho migrou da agricultura para a indústria, depois da indústria automatizada para o setor de serviços e hoje do setor de serviços para as tecnologias digitais, que substituem o trabalho humano, manual e racional
Então a grande pergunta que fazemos hoje é: afinal, as maquinas nos substituirão completamente? E, se sim, quando será isso?
Há estudos sinbalizando que cerca de 50% das ocupações podem ser substituídas em cerca de 20 anos. Entre as novas ocupações apontam-se no campo de marketing digital, de cientistas de dados, pilotos de drones, influenciadores digitais, entre outras.
O professor Álvaro recomenda o livro "Rise of the robots", de Martin Ford (foi publicado no Brasil: FORD, Martin. Os robôs e o Futuro do Emprego. Rio, Best Business, 2019. O autor discute a evolução das novas tecnologias, o avanço dos robôs, entre outros instigantes temas.
A dinâmica da criação de empregos tem sido polarizada: de um lado, surgiram funções de alta qualificação e renda, no campo da TI; de outro, ocupações de muito baixa qualificação e remuneração, como logística, transporte, vendas, cuidadores, doméstico. Nos níveis intermediários, encontram-se profissionais liberais, que vêm sendo bastante afetados.
Veja-se o caso da Amazon. Emprega grande número de cientistas e engenheiros e, ao mesmo tempo, nos centros de logística há trabalhadores com pouca qualificação.
As novas tecnologias estão gerando uma depreciação relativa dos salários (o salário cresce menos que a produtividade) e fragmentação dos postos de trabalho. Surgem, por outro lado, novas modalidades de vínculos de trabalho, como contrato zero hora, trabalhos em plataforma, entre outras, ao invés de explosão do desemprego.
Há também formas precarizadas de trabalho, como ocorre com entregadores de delivery ou motoristas de plataformas digitais. Tais trabalhadores geralmente se utilizam desses “bicos” para complementar a renda. Assim, não haveria falta de emprego, mas os salários é que são muito baixos, levando-os a se utilizarem desses expedientes. O serviço doméstico em plataforma também vem crescendo muito nos EUA. Por aqui, parece que as plataformas se alimentam da falta de empregos ou de bons empregos.
Não é factível culpar a tecnologia e irmos para um caminho ludista; não é a tecnologia propriamente a causa disso, mas seus usos sociais.
Descrever as plataformas digitais como formas precárias de trabalho não é suficiente. A lógica da jornada e de salário são diferentes, o valor das mesmas corridas são variáveis e calculadas por algoritmos, não havendo nexo estável entre tempo de trabalho e remuneração desse trabalho. Não há associação exata entre remuneração e produtividade.
Observa-se precarização das forças de trabalho: trabalho assalariado teve que ser imposto à força no mundo, mesmo com resistência dos camponeses e artesãos, da época. A tendência atual é o encolhimento do trabalho assalariado; ele não é a única maneira de trabalho possível.
Mas com essa reversão histórica de um tipo de trabalho que tem cerca de 100 anos, como construir um direito do trabalho e de bem estar social? O professor álvaro acha possível.
Pan-óptico (termo criado por Jeremy Bentham – 1785, para definir uma penitenciária ideal, matriz das prisões européias): os algoritmos das redes virtuais são os pan-ópticos virtuais contemporâneos; são mais perfeitos do que os pan-ópticos das prisões, porque aqui além de vigiar e punir, eles obtém enormes lucros, que não obtinham com os presidiários.
O core business faz sumir as comissões de empresa e os sindicatos, pois os algoritmos dificultam a fiscalização do trabalho.
Resumo de autoria da pesquisadora Vanessa Anitablian Baltazar
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