Vamos falar novamente da Venezuela. Um grupo de ministros das relações exteriores do continente está em Caracas para estimular o diálogo entre o governo e a oposição. Mas esses diplomatas nada poderão fazer. Eles compõem a Unasul, a União de Nações Sul-Americanas, e são, digamos, simpáticos à República Bolivariana. Quando um governo quer negociar, ele baixa a guarda. Na Venezuela, ele mostra as garras. Foi o que aconteceu ontem, quando o presidente da Câmara dos Deputados, sem qualquer processo, mesmo sumário, decidiu cassar o mandato de uma dirigente da oposição. Maria Corina Machado é uma das líderes das manifestações de rua, que começaram em 12 de fevereiro. Até agora já morreram 36 pessoas em confrontos com milícias chavistas. Estão presos quase 1.900 opositores. Entre eles, o líder de um partido político e dois prefeitos de cidades importantes. Maria Corina tentou na semana passada falar em nome da oposição venezuelana durante uma reunião da Organização dos Estados Americanos. A tentativa dela foi censurada por aliados do governo bolivariano, entre eles o representante do Brasil. Mas ela falou assim mesmo, ao ocupar minutos reservados à delegação do Panamá. A Venezuela continua a caminho do fundo do poço. A inflação anual é de 57 por cento. As reservas cambiais cobrem apenas cinco meses de importações. Os supermercados não têm um quarto dos produtos procurados, e as farmácias estão sem medicamentos essenciais. Ainda hoje de manhã um apagão afetou o centro e o norte da Caracas. Parou uma parte da rede de metrô. O ministro da Energia acusou a oposição de sabotagem. Todas as emissoras de rádio e TV são ligadas ao governo e elogiam o governo. Os jornais de oposição não recebem dólares para importar papel de imprensa. O problema está agora em saber se Nicolas Maduro, o sucessor de Hugo Chávez, ainda tem fôlego para cumprir seu mandato presidencial até 2019. Ele ontem disse que foram presos três brigadeiros da Aeronáutica por estarem tramando um golpe de Estado. Será que isso realmente aconteceu? Tenho lá minhas dúvidas. O chavismo é muito cuidadoso e seletivo na promoção de oficiais superiores. De qualquer modo, a casa está caindo, e os venezuelanos enfrentam uma situação cada vez mais precária. É assim que o mundo gira.
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